terça-feira, 24 de outubro de 2023

 Sei que preciso dormir.

Mas e se amanhã eu não acordar?

Não terei contado todo meu legado.

As histórias da minha família.

Meu rancho e meu congado.

A folia de santo Reis.

Meus tios tocadores de viola.

Meu pai e seu sonho de ser artista.

Minhas avós índias mestiças.

Meu avô cigano que eu amo.

Os primos e os vizinhos.

A escola, tia Eliane, os cortes na pele

Por passar na cerca de arame farpado.

Os medos, os segredos.

Os sapinhos coloridos que eu dava banho,

Típicos do serrado.

O gato que lavava com sabão em pó.

A tentativa de lavar o Fiel com esfregão.

A minha mãe fazendo sabão.

A vila e a igreja com pedrinhas brilhantes

Que lembravam o céu.

Iria me casar ali.

Isso era o que minha mãe falava

Ao som de Ave Maria.

Daqui dois meses eu me caso,

Com meu ofício sagrado.

Vou cantar Ave Maria

Para enchê-la de alegria.

Ela nem deve vir ver

Mas no fundo eu vou saber

E através da tela eles hão de ver:

Sua filha, sua Nanane, sua princesa

A renascer, na história contada

Pelas minhas mãos e pés

Nunca cansados de aprender.

E muitas terras ainda irão me conhecer

Contando sobre aqueles que um dia me viu e me fez,

Nesta terra eu renascer.


(Acosta)


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