Sei que preciso dormir.
Mas e se amanhã eu não acordar?
Não terei contado todo meu legado.
As histórias da minha família.
Meu rancho e meu congado.
A folia de santo Reis.
Meus tios tocadores de viola.
Meu pai e seu sonho de ser artista.
Minhas avós índias mestiças.
Meu avô cigano que eu amo.
Os primos e os vizinhos.
A escola, tia Eliane, os cortes na pele
Por passar na cerca de arame farpado.
Os medos, os segredos.
Os sapinhos coloridos que eu dava banho,
Típicos do serrado.
O gato que lavava com sabão em pó.
A tentativa de lavar o Fiel com esfregão.
A minha mãe fazendo sabão.
A vila e a igreja com pedrinhas brilhantes
Que lembravam o céu.
Iria me casar ali.
Isso era o que minha mãe falava
Ao som de Ave Maria.
Daqui dois meses eu me caso,
Com meu ofício sagrado.
Vou cantar Ave Maria
Para enchê-la de alegria.
Ela nem deve vir ver
Mas no fundo eu vou saber
E através da tela eles hão de ver:
Sua filha, sua Nanane, sua princesa
A renascer, na história contada
Pelas minhas mãos e pés
Nunca cansados de aprender.
E muitas terras ainda irão me conhecer
Contando sobre aqueles que um dia me viu e me fez,
Nesta terra eu renascer.
(Acosta)
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