Ouvindo o som das minhas raízes
Lembrei-me do tear.
Da lã a fiar,
e das ladainhas a rezar.
Aquelas cobertas coloridas da minha avó.
As histórias a nos amendontrar
__Crovspatokoviskminóoooooo....
Com medo do lado delas a gente não ficar.
Falavam de “homens do saco”, onças felinas a nos abocanhar
Caso na mata a gente se atravesse a entrar.
E as águas do rio então?
Até me afogar meu pai teve coragem
Só pra buscar que eu nelas não enveredasse.
Rapa de tacho. Varrer o terreiro levantando poeira.
Contar as estrelas com o chegar da noite.
Subir no telhado pra ficar perto do céu.
Esconder debaixo da mesa.
Boneca de sabugo de milho.
Descarregar a carreta com a colheita.
Arroz, milho, feijão, amendoim, algodão.
E aquilo tudo pra mim.
Subir nas mangueiras.
Fazer arapuca.
Iambú, tucano, rolinha, andorinha, tesourinha.
Furar cisterna, fazer fogão de lenha.
Andar descalça.
Tomar banho e lavar roupa no córrego.
Pegar lambari com a mão.
Ouvir o som dos bambueiros.
Minha mãe costurando o embornal.
E eu brincando o dia inteiro.
As vacas berrando no curral,
As galinhas no quintal.
O pio dos pássaros.
A casa do João de Barro.
Imaginava seus móveis, sua esposa a beira do fogão.
Tudo de barro.
Era a lógica.
Coberta de barro.
Chá de barro.
Cheguei a comer terra pra saber o sabor.
Ficava triste quando chovia
Tinha medo que sua casa derretesse
E pedia a Deus que os protegesse.
O brilho do polvilho secando no sol que segava meus olhos.
Pareciam que as nuvens desciam do céu.
Eu olhava para um lado. Olhava para outro.
E eu ia pé por pé até o giral
Onde estava secando o que antes parecia mingau.
O cheiro do polvilho.
A maciez alva.
O barulho que fazia arrepiar.
Eu enfiava meus dedos entre aquela bruma
Fingindo ser a própria nuvem
Brincando de fazer desenhos no céu.
Quando minha mãe perguntava
Eu respondia bem baixinho:
__Devem ser os passarinhos!
E saia correndo bem de fininho
Na grama verde ou seca
Naquela vida que era só festa
No meio do mato
Ao lado da floresta.
Na fazenda córrego fundo
Que era o meu único e verdadeiro mundo.
(Acosta)
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