terça-feira, 24 de outubro de 2023

 Ouvindo o som das minhas raízes

Lembrei-me do tear.

Da lã a fiar,

e das ladainhas a rezar.

Aquelas cobertas coloridas da minha avó.

As histórias a nos amendontrar

__Crovspatokoviskminóoooooo....

Com medo do lado delas a gente não ficar.

Falavam de “homens do saco”, onças felinas a nos abocanhar

Caso na mata a gente se atravesse a entrar.

E as águas do rio então?

Até me afogar meu pai teve coragem

Só pra buscar que eu nelas não enveredasse.

Rapa de tacho. Varrer o terreiro levantando poeira.

Contar as estrelas com o chegar da noite.

Subir no telhado pra ficar perto do céu.

Esconder debaixo da mesa.

Boneca de sabugo de milho.

Descarregar a carreta com a colheita.

Arroz, milho, feijão, amendoim, algodão.

E aquilo tudo pra mim.

Subir nas mangueiras.

Fazer arapuca.

Iambú, tucano, rolinha, andorinha, tesourinha.

Furar cisterna, fazer fogão de lenha.

Andar descalça.

Tomar banho e lavar roupa no córrego.

Pegar lambari com a mão.

Ouvir o som dos bambueiros.

Minha mãe costurando o embornal.

E eu brincando o dia inteiro.

As vacas berrando no curral,

As galinhas no quintal.

O pio dos pássaros.

A casa do João de Barro.

Imaginava seus móveis, sua esposa a beira do fogão.

Tudo de barro.

Era a lógica.

Coberta de barro.

Chá de barro.

Cheguei a comer terra pra saber o sabor.

Ficava triste quando chovia

Tinha medo que sua casa derretesse

E pedia a Deus que os protegesse.

O brilho do polvilho secando no sol que segava meus olhos.

Pareciam que as nuvens desciam do céu.

Eu olhava para um lado. Olhava para outro.

E eu ia pé por pé até o giral

Onde estava secando o que antes parecia mingau.

O cheiro do polvilho.

A maciez alva.

O barulho que fazia arrepiar.

Eu enfiava meus dedos entre aquela bruma

Fingindo ser a própria nuvem

Brincando de fazer desenhos no céu.

Quando minha mãe perguntava

Eu respondia bem baixinho:

__Devem ser os passarinhos!

E saia correndo bem de fininho

Na grama verde ou seca

Naquela vida que era só festa

No meio do mato

Ao lado da floresta.

Na fazenda córrego fundo

Que era o meu único e verdadeiro mundo.


(Acosta)


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