terça-feira, 24 de outubro de 2023

 carcaça

Percebo-me minúsculo animal caminhando a passos lentos; 

perambulo por entre a penumbra das vistas cegas sobrevivendo às tempestades.

Atravesso montanhas,

agrestes, desertos, 

oceanos, vales, campos,

praias e florestas;

Diversos corvos, urubus, carcarás e aves de rapina sobrevoam meu corpo na sede de devorar até a carcaça; querem saborear a carne viva, vermelha de minha vida; 

anseiam por mastigar vagarosamente todos os meus nervos; 

Fazem apostas, jogam búzios, alimentam de sangue morros de pedras, apelam a todos os lugares;

E, aproximam-se na velocidade da luz ao mínimo escorregão, tropeço ou queda;

E a sua chegada é recebida por mim com todo o respeito merecido.

Só quem retorna várias vezes ao inferno pra compreender e saborear a divindade da paz de encontrar-se no céu.

 Permito com que se deleitem e deixo com que as mais sedentas desçam e alimentem-se primeiro do meu sangrar. 
Sinto minunciosamente todo o seu fel, seu gozo amargo, os dentes e bicos afiados. 
Percebo cada centímetro de dor de suas garras fincada em minha alma, sinto cada jorrar de sangue, percebo cada pedaço que é retirado de meu corpo; 
É sim doloroso morrer

(2013)


Nenhum comentário:

Postar um comentário