quinta-feira, 26 de outubro de 2023

 no relógio as horas não param

e o silêncio ecoa entre uma gota ou outra que cai lá fora
os pássaros gorjeiam agradecidos do chão molhado
folhas limpas e o verde nascendo nas campinas
e antes não se chovia assim em julho
e antes era tudo diferente
como amanhã hoje também será
e daqui a milhões de anos o dia de amanhã
é novidade
apesar da saudade e do saudosismo a Suassuna ou de Rosa,
do que vale o cheiro do mato na urbanidade tecnológica?
do que vale falar de sertão se os pavimentos tomam conta do cerrado
e amanhã são as lembranças fragmentos de um tempo arcaico
esquecido no presente mitológico de seres criados na imaginação
e a linguagem ñ passa d verbetes diminutos
e não se sabe mais de o que se está falando
e no peito o pulso sabe o pulso de seu pulsar?
parece que o frio congelou as emoções
e o silêncio calou os olhos de um pensador da alma,
de um riscador de sonetos e pensamentos nobres
que poucos entendem o seu valor,
calou os poros de um boêmio livrador de sentimentos e seus intentos libidinosos
que caminhava no domingo cedo nas calçadas zebradas de um Rio em janeiros idos
e por fim colocou um fim na escrita de um sonhador com suas lembranças de criança
ouvindo histórias do avô que calado e quieto observava as gentes que por ali passava com seusconversadô,
versador cancionista rimando seu povo
boiadeiro, catingueiro do laço do aço de se ser o que se é
descobridor de sua linhagem linguagem
gentes que por mais que se estude não se consegue decifrar
por que ele era mais do que nóis tudo
ele era o que sentia o cheiro da poeira
e conseguia descrevê-la
como quem sente as suas cores tocando suave ciranda
na epiderme do Ser
e eis que aqui me calo
silêncio e respeito
pois que daqui pouco se sabe da Verdade,
a não ser que...
no relógio, as horas não param
(mas os antigos diziam, que as vezes, o que resta é a gente acreditar em milagres)

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