nasci nas terras
vermelhas de um campo verde
entre serras enfeitadas por troncos contorcidos das árvores
pequi, murici, jacarandá, ipês, amarelim,
onde na pastagem floriam cores
que enfeitavam os dias e as manhãs
onde meus pés brincavam de construir trilhas no orvalho derramado
e no final da tarde a chuva brindava com um arco-íris
e o jogo era tentar atravessar e ver o que tinha do outro lado
o tempo era tanto tempo que o canto dos pássaros parecia eternidade
dentro de casa deitada no chão gelado
fechava os olhos e caminhava pelo quintal
buscando onde cada um deles estava
e assim brincava de localizar as aves no quintal
guiada pela melodia
cantarolada
vez ou outra parava para ouvir minha avó e mãe conversando
ou um mosquito passando com seu zunido,
as cigarras, juritis, joão de barro, e as arara que na época ainda eram raras
aos meus ouvidos
existia junto ao barulhinho do riacho e dos bambuzais
tucanos, e outros variados pássaros,
ligava um gps mental e sem saber das tecnologias que viriam
desenhava mapas e trilhas
observando os passos dos pássaros
desenhados na areia que brilhava quente embaixo do sol
naqueles dias no cerrado mineiro
conversava com árvores
e os animais me respondiam
ouvia explosões na serra
e certa vez uma delas conversou comigo
disse: eu também tenho vida sabia?
ficava imaginando o dia em que eu cresceria
com certeza iria buscar atravessar o rio
e subir até aquela montanha no alto, em frente de casa,
quantos tesouros ela guardava?
meus dias eram eternos
até que um dia
quis conhecer um pouco mais do que tinha além daquela linha
que criava uma circunferência em torno de mim
e ali sempre se repetia
sempre sempre a mesma imagem,
enfeitada com as telas das estações
e por mais bela que fosse,
mesmo com a dor e a agonia
o anseio foi aumentando
e saí de casa
Nenhum comentário:
Postar um comentário